domingo, 18 de março de 2012

A Expansão Marítima

Em 1453 Constantinopla caía nas mãos dos turcos otomanos. Último grande entreposto comercial cristão no Oriente, a queda desta cidade favoreceu a busca de caminhos alternativos para a busca das tão lucrativas especiarias do Oriente. Essa busca levou os europeus a mergulhar numa das maiores aventuras da história humana. As grandes navegações colocaram em contato, pela primeira vez, todos os continentes habitados do Globo, iniciando o que podemos chamar de primeira globalização.

Causas da Expansão Marítima


        Necessidades metalistas: o mercado europeu necessitava de maiores recursos em metais moedáveis para poder desenvolver as trocas comerciais.
        Buscar rota alternativa para a India: era urgente abastecer a Europa das tão apreciadas e lucrativas especiarias da India (cravo, canela, nóz moscada, pimenta do reino, etc).
        Necessidade de novos mercados: os europeus necessitavam trocar seus produtos manufaturados como outras regiões.
        Novas técnicas: bússola, astrolábio, caravela, cartas marítimas, avanço da geografia, esfericidade terrestre, pólvora e armas de fogo.
        Centralização monárquica: apenas Estados fortes poderiam levantar os grandes recursos necessários à empresa marítima.
        Desenvolvimento da Burguesia: asse novo grupo social vislumbrava enormes lucros no comércio marítimo.
        Espírito de aventura: A exploração colonial abria possibilidades de ascensão sócio-econômica fora da Europa.

As Navegações de Portugal

A centralização do poder em Portugal se confunde com as guerras de reconquista de seu território contra os muçulmanos.
Em 1139, a Dinastia de Borgonha foi fundada por Afonso Henriques. Os reis dessa dinastia impuseram severas derrotas aos mouros e finalmente os expulsaram do Algarve em 1249.
Em 1383, ocorreu a Revolução de Avis, pela qual João I (mestre da ordem de Avis) fundou a Dinastia de Avis. Esse rei se aliou à burguesia comercial lusitana e promoveu o desenvolvimento marítimo português, preparando o caminho para a aventura portuguesa pelos novos mundos no século seguinte.

Os Portugueses foram os primeiros a se lançarem ao mar, e seu pioneirismo se deve a diversos fatores.
        Situação geográfica privilegiada: Portugal situa-se na parte mais ocidental da Europa e detém um extenso litoral que serve de entreposto para as rotas de comércio que ligam  Europa e África e  o Mediterrâneo e Atlântico.
        Conhecimentos técnicos: No século VIII os árabes invadiram o território português e trouxeram consigo muitas novidades técnicas do Oriente: astrolábio, bússola, pólvora.
        Experiência de navegação: premidos pela necessidade, pois as terras não eram muitas e nem férteis, já na Baixa Idade Média os portugueses faziam pesca em alto mar.

        Burguesia mercantil forte: O renascimento comercial do fim da Idade Média favoreceu o desenvolvimento de um rico comércio entre o Mediterrâneo e o Mar do Norte, no qual Lisboa tinha um papel de importante entreposto.
        Centralização Monárquica: Portugal foi o primeiro Estado a centralizar o poder com a Revolução de Avis no  século XIV, quando ascendeu ao trono D. João de Avis favorável à burguesia e a seus interesses comerciais.


O Ciclo Oriental das Navegações ou Périplo Africano

 Os portugueses buscaram em sua aventura marítima um caminho alternativo para as Índias. Esse caminho deveria contornar o continente africano para chegar às tão cobiçadas especiarias indianas. Assim ao longo de todo o século XV, os navegantes portugueses conquistaram pouco a pouco o litoral africano até achar o tão almejado caminho das índias.
Resumo das Navegações Portuguesas
1415: Conquista de Ceuta no Norte da África.
1419: Ilha da Madeira
1431: Arquipélago dos Açores
1434:Gil Eanes atinge o Cabo Borjador
1482: Diogo Cão chega na região do Zaire.
1488: Bartolomeu Dias atinge o Cabo da Boa    Esperança no extremo sul da África.
1498: Vasco da Gama atinge Calicute na Índia, concluindo o périplo africano.
1500: Em 22 de abril Cabral chegou ao Brasil.

Apesar de perigosa, a carreira da Índia auferiu lucros imensos para Portugal com o comércio das especiarias. O porto de Lisboa transformou-se num dos mais agitados da Europa.
 No século XVI Portugal tornou-se um dos Estados mais poderosos da Europa e a corte portuguesa viveu seu período de maior esplendor.
As navegações da Espanha

O Ciclo Ocidental das Navegações
A exemplo do que sucedeu com Portugal, a centralização do poder na Espanha também se deu paralelamente às lutas contra os muçulmanos em seu território. Durante esse processo consolidaram-se os reinos de Aragão, Navarra, Leão e Castela.
Com a reconquista do território espanhol aos muçulmanos pelos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela em 1492, a Espanha finalmente conseguiu centralizar o poder e financiar a empresa marítima.
No mesmo ano da Reconquista o navegador genovês Cristóvão Colombo convenceu os reis espanhois a financiar-lhe uma viagem às Índias pelo Ocidente.
A idéia de Colombo era tirar proveito da forma esférica da Terra para chegar ao oriente navegando sempre para o ocidente, ou seja, ele daria a volta ao mundo.
 Não obstante, nos planos de Colombo não constava a possibilidade de haver  uma barreira entre os dois pontos. Assim, em 12 de outubro de 1492 esse navegador simplesmente tropeçou na América pensando que estava chegando ao Oriente.
Anos depois o navegador florentino Américo Vespúcio observou que as terras descobertas por Colombo eram um novo continente, o qual descreveu em sua obra Mundus Novus. O sucesso da obra de Vespúcio na Europa acabou por imprimir o seu nome às novas terras, enquanto Colombo morreu pobre e esquecido acreditando que de fato chegara às Índias.
A Partilha do Mundo
A Bula Inter Coetera foi assinada em 1493, pelo Papa espanhol Alexandre VI. Esse documento papal traçava um meridiano hipotético a 100 léguas a Ocidente de Cabo Verde. Todas as terras a oeste deste meridiano pertenceriam à Espanha e a leste pertenceriam a Portugal. Percebendo a enorme desvantagem, Portugal não aceitou a primeira divisão e, em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas que estendeu o meridiano a 370 léguas a Oeste da ilha de Cabo Verde.
 As navegações da Inglaterra, Holanda e França.

  O pioneirismo português e Espanhol nas navegações deixaram países que ainda se viam com problemas internos como a Inglaterra, a França e a Holanda. Esses países equacionaram seus respectivos processos de centralização apenas no século XVI. Assim esses novos Estados mercantilistas tinham uma grande necessidade de metais preciosos, mercados e matérias primas. Isso favoreceu uma forte disputa colonialista entre os Estados europeus no século XVII, o que provocou muitas guerras dentro e fora da Europa.
  A França e a Inglaterra privilegiaram a exploração e colonização da América do Norte. Esta última também deu grande apoia às práticas de pirataria no reinado de Elizabeth I o que originou grandes rivalidades com a Espanha, haja vista que o alvo princiapl dos corsários ingleses eram os galeões espanhóis invariavelmente carregados de ouro e prata. O Brasil foi, por diversas vezes, alvo das investidas de franceses (Rio de Janeiro) e holandeses (Bahia e Pernambuco). Esses chegaram a dominar regiões de interesse por vários anos no nordeste açucareiro. Não obstante, foram expulsos pelos portugueses passado algum tempo.


O Triângulo Comercial

Os europeus estruturaram uma grande estrutura de exploração colonial abrangendo um triângulo cujos vértices apontam para a Europa, África e América. Desse modo, a exploração se concentrou na África (escravos) e América (matérias primas) e o acúmulo de capital determinado pelos lucros exorbitantes do comércio triangular se concentrou no vértice europeu.
As manufaturas européias (tecidos e armas) eram trocadas com grandes vantagens por escravos na África. Os africanos escravizados eram levados para a América onde eram permutados por matérias primas (ouro, prata, açúcar). Essas matérias primas eram levadas para a Europa onde alcançavam altíssimo preço.
De outro modo, os europeus  também trocavam suas manufaturas  diretamente na América por matérias primas, para então voltarem para a Europa. Havia ainda a oportunidade não menos lucrativa de trocar as manufaturas por fumo, aguardente ou melado, que poderiam ser facilmente levados à África e trocados por escravos que seriam trocados na América por matérias primas que, na Europa, reverteriam em estrondoso lucro. Qualquer que seja o sentido da triangulação mercantilista, os europeus auferiam sempre enormes lucros. Isso favoreceu o acúmulo de capital e o desenvolvimento comercial do capitalismo e da indústria na Europa.
A exploração colonial européia se pautava por alguns princípios básicos:
        Monopólio Comercial: A metrópole tinha total exclusividade no comércio com suas colônias
        Complementariedade: A produção da colônia deveria ser complementar à da metrópole para permitir o lucrativo intercâmbio de mercadorias. Era vetado à colônia ter manufaturas.
        Escravismo: Utilização sistemática de escravos africanos (Brasil e EUA) ou indígenas (América Espanhola).

 Conseqüências das Navegações
        Desenvolvimento do comércio Atlântico
        Estados Nacionais fortalecidos
        Ascensão capitalista e burguesa
        Novos povos e culturas
        Novos animais e plantas
        Imposição cultural européia
        Imposição da religião cristã
        Comércio de escravos
        Desenvolvimento científico tecnológico
        Desestruturação cultural dos indígenas

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